domingo, 26 de fevereiro de 2012

A Força de Nossos Pés


Desde o dia em que tu nasceste, criei a ilusão que poderia caminhar por ti. Imaginei que colocaria teus pés sobre os meus e te levaria pelos caminhos que eu julgasse mais tranqüilos e seguros. 

Dessa maneira, tu nunca feririas teus pés pisando em espinhos ou em cacos de vidro e jamais se cansaria da caminhada, nem mesmo precisarias decidir qual estrada tomar. Isso seria eternamente minha responsabilidade. 

...e foi assim durante um bom tempo, caminhei por ti, para ti. De repente, o tempo veio me avisar bruscamente que essa deliciosa tarefa não faria mais parte dos meus dias. Teus pés cresceram e eu já não conseguia mais equilibrá-los em cima dos meus, daí quando eu menos esperava eles escorregaram e alcançaram o solo.

Hoje sou obrigado a vê-los trilhar caminhos nos quais os meus jamais os levariam e ainda tento detê-los insistentemente, mas só raríssimas vezes consigo.

Agora só me é permitido correr com os meus junto aos teus e em certos momentos teus passos são tão largos que quase não posso acompanhá-los. Atualmente, assisto aos teus tropeços sempre pronto para levantar-te das tuas quedas. Por vezes, tu me estendes tuas mãos em busca de socorro, outras, mesmo estando estirado ao chão e ferido, insistes em levantar-te sozinho por puro orgulho ou para me provar que já és capaz de erguer-te após teus tombos e curar-te de tuas próprias feridas.

Assim vamos vivendo e sinto uma saudade imensurável daquele tempo que precisavas de mim para conduzi-lo, pois era bem mais fácil suportar teu peso sobre meus pés, do que sobre meu coração. No entanto, já consigo compreender como a vida é sábia.

Percebo, finalmente, que em algum momento tu precisaste mesmo desbravar teus caminhos independente de mim...

...como eu, é provável que tenhas que fazê-lo com mais alguns pés sobre os teus, os dos teus filhos. Não, claro que não é uma tarefa fácil, mas se eu consegui, tu também conseguirás porque plantei em teu coração o melhor e mais poderoso aditivo para que suportes tanto peso, o amor!

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